terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Coisas do Natal

Soaroir 25/12/07 13:35


▪Naquele cheiro característico de vela apagada, misturado aos dos assados e dos especiais bolinhos de bacalhau fritos pelo próprio anfitrião se encerra a ceia de Natal. Aquela mesa impecavelmente decorada pela prendada dona da casa já não é mais a mesma. Tudo e todos espalhados, exceto a montanha de papel de presentes fervorosamente desembrulhados que descansa em um canto; é chegada a hora daqueles que só se vêem uma vez por ano colocar os assuntos amenos em dia. Quem nasceu, quem se casou com quem, quem passou de ano e outras novidades boas. Foi nesse clima de descontração que eu quase provoquei uma Intifada.
Vocês são idish? Perguntei a um dos filhos de um casal recém agregado a família, que a cada dia fica maior.
– O que é isso, alguma língua?
▪Imediatamente percebi o fiasco e respondi “esquece” e parti para me servir de mais vinho. Na volta, pensava em semita e refiz minha pergunta: “vocês são judeus?”
▪Foi pior a emenda que o soneto. Com muita irritação a família em coro respondeu “Não somos judeus, somos árabes...” Pedi desculpas e sai de fininho enquanto alguém fora do grupo tentava amenizar a situação “ah, mas fica tudo perto...”.
▪Preciso parar de beber... Primeiro que idish é uma escrita usada pelos judeus europeus, mais exatamente pelos polacos, romenos e russos, segundo a pergunta correta seria se eles eram israelitas, terceiro trocar essas origens numa festa de Natal cristão só pode mesmo é provocar uma Jihad.
▪Assim encerrei mais uma noite de Natal, acabando com a mais curta das amizades e a possibilidade de voltar a comer aquele excelente homus e quibe cru fora da época do Natal.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A irresistível sedução do Natal

By Soaroir Maria de Campos 11/12/07
















■Estou propensa a achar que macarrão é um santo remédio. Após o jantar de ontem ao alho e óleo, amanheci com mais disposição, mesmo que o resfriado ainda persista. Não damos muita importância ao nosso limite físico até que uma hora “kaput”. Foi o que me aconteceu depois de toda a apreensão dos últimos meses com o filho encerrando o ensino médio, quinta avaliação, primeira fase da Fuvest e as inevitáveis recepções da colação de grau, missa e despedidas dos amigos de mais de 14 anos, e ainda contornando a insegurança gerada por essa ruptura de um mundo seguro e a partida para o mundo real. Finalmente agora é com você, disse eu ao meu filho, vou me dar umas férias. Não quero saber nem de festa de Natal.
■Nada disso... A festeira da família avisa do jantar para sortear o amigo secreto, ou inimigo oculto; e então ordenamos: vamos lá ¹Rudolph, Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupid, Donner e Blitzer, e saimos voando na doideira da cidade a fim de escolher presentes decentes e baratos que, certamente, não servirão.
■Ao voltarmos da busca por “souvenirs”, já envolvidos pelas cores e animação das pessoas e lojas, começamos a ver mais sentido na teoria da relatividade: não mudamos o mundo em 365 dias, mas pelo menos podemos mudar-nos por uma noite e, auxiliados pelas acanhadas mensagens de Boas Festas que começam a chegar no final de uma conversa telefônica, por e-mails, algumas ainda por debaixo da porta, o coração vai amolecendo e de repente lá estamos mudando nossa conduta, pondo de lado as mágoas, os problemas e cansaço e, já ouvindo o coro dos anjos, nos pomos novamente a enfeitar nossas portas e árvores com as nossas cintilantes luzinhas coloridas para confraternização na irresistível e divina noite que a cada ano renova nossas esperanças.
■Assim só nos resta entrar no clima e repetir “Boas Festas” desejando que o Natal suplante todos os cansaços e fadigas e que a esperança jamais pereça. Boa sorte!

¹ ( em português: Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão, Relâmpago)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Crônicas pra ler depois

Soaroir 22/10/07


Desde que o Veríssimo – desculpe-me, mas é que a convivência diária e tão próxima me leva a esta intimidade – em uma de suas crônicas declarou seu débito com o latim que eu tento saldar minhas pendências.

“Sou mais eu, hoje acabo com essa fuzarca! Onde já se viu deixar tantas pendências para depois, tempo que segue tirando meu sossego e abusando de minha hospitalidade! Descaradamente se alastrando por todo o meu espaço!...Há de ser hoje que mostro quem é que manda por aqui...” pensava enquanto arregaçava as mangas e, como em uma cena de desenho animado, varejava os vencidos e caducados cadernos separando-os do verdadeiro motivo daquela pendente bagunça.

Recortava e cuidadosamente ordenava por data o Loyola Brandão; Rubens Paiva; da Matta; Jabor, Shirts, e Veríssimo quando de repente fui assediada por um ser alienígena me indagando o que “depois” significava. Caramba..., assim de repente, sem prévio preparo...Imediatamente revi meus conceitos e os pretéritos, mas nada encontrei que eu pudesse definir “depois”. Estava claro para mim o que era “ontem”, “amanhã”, “ano que vem” e, até mesmo o “antes”, mas “depois” não soube mesmo como explicar. Diante da insistência daquele ser eu “chutei”: é a mesma coisa que o limbo - existe, nunca sabemos onde está, e é uma espécie de estalagem onde se pernoita até chegar a próxima carruagem.

Sem prestar mais atenção ao invasor continuei a tarefa a que tinha me proposto, mas mentalmente repetia: “para depois, para depois, para, depois” e cada vez menos fazia sentido o que era “depois”. Pensei nas várias coisas que deixei para “depois” resolver, entre elas as blusas de seda, de quando ainda eramos puras, que continuam entulhando os armários, só porque me custaram os olhos da cara e suas substitutas, fabricadas com o material PET, não me agradam. Ali mesmo na biblioteca olhei para as diversas tranqueiras em meio a tantas coisas importantes deixadas para “depois” resolver. “Depois” é bom, necessário, mas gosta muito de vaguear. É melhor não deixar muita coisa aos seus cuidados.

Já para terminar aquela pilha me reaparece o alienígena de oito patas; para evitar novas discussões encerrei o assunto com “A grande mulher do Lineu” e deixei uma nota de esclarecimento: “Para depois ler”



Deixo para depois revisar