domingo, 18 de outubro de 2009

APatA

ou Ass. dos

Patéticos Anônimos
Soaroir 18/10/09

Nunca me viciei em coca-cola ou levei alguma coleção a sério. Depois de uma cerveja, o que mais gosto é um pastel de feira, e caldo de cana que me remete à minha infância na usina Ururaí. De resto sempre fui uma pessoa alegre e esfuziante, embora com o tempo venho tentando me conter, diante de certos embaraços, ciúmes e até inveja que causo nos circunscritos que, quando me aceitam, me recebem como um ser fora da ordem mundial.
♦“Entre os ingleses aja como um” ou algo assim. Não me lembro se mais alguém já disse isso, mas ouvi do meu filho em uma das vezes em que fui visitá-lo em Cambridge, logo depois de encontrar o Nick na hora do break, na cafeteria lotada de aspirantes a PhD.
Por umas duas semanas o Nick foi nosso hospede aqui no Brasil e como bom inglês acredito que traduziu a fala When in Brasil act like one e a impressão que deixou por aqui foi de rapaz expansivo e carismático.
A maioria dos ingleses é cheia de energia e animação, mas nada de abraço apertado e beijinho dobrado como eu, que de braços abertos e num soprano alto demonstrei a minha alegria em revê-lo: Hi Nick!, what a nice surprise seeing you again...
Só mais tarde percebi o mico. Primeiro "Hi" e não poderia ser surpresa já que eu sabia que o moço estudava lá e segundo...Bom, nem é preciso contar!
Esta, entre muitas outras vezes em que meu esfuzio foi implacável, estava esquecida dentro de algum compartimento provavelmente do tipo “Inspiração Divina” junto de remorsos e desigualdades até que o colega de letras Bancalero sugeriu o mote de poesia Tantas coisas para se lembrar -Tantas outras para se esquecer que revirando o compartimento “Inspiração Divina” me dei conta de que sim sou patética, mas não estou só - somente o é aquele que sem compromisso com a censura vive a emoção de cada momento, aos olhos daqueles que ainda não aprenderam a vivê-la.

sábado, 3 de outubro de 2009

Esqueletos

►Deveria existir um manual para se lidar com fantasmas, principalmente os que se apresentam em noites de insônia.
►A maioria deles tem predileção por interferir em forma de pesadelo assim que se começa a cochilar; outros preferem abrir porta de armário e até dominar o controle remoto da televisão.
►Desde dos anos 50 quando a Zenith Radio Corporation criou o primeiro controle remoto até o atual desenvolvido pela ITT Corp., que os insones são cada vez mais dependentes compulsivos do telecomando. Com ele criamos uma rotina paliativa que distrai a expectativa de dormir, embora os médicos aconselhem aos insones ficar longe de bons livros, bebida, cigarro, e principalmente que retirem a televisão do quarto. “Se estiver passando algum programa interessante, será difícil conseguir começar a dormir ou continuar o sono interrompido. Para alguns a televisão é hipnótica.” Eu acrescentaria retirar também o relógio, que a meu ver é um grande responsável pela manutenção da dona insônia. E caso a televisão permaneça no quarto, aviso que é de extrema importância manter o controle remoto fora do alcance de fantasmas.
►Com a pobreza de programação, em especial a noturna, não há muito o que escolher para assistir quando chega a insônia. Basta sintonizar em um canal de música ou no “Animal Planet” e ficar com o controle preparado para diminuir o som quando entrar o “reclame” a fim de não acordar a vizinhança. E assim, de acordo com a leveza do ser, programa-se o “sleep” e com a vigília distraída ela perde importância e sem stress se acaba adormecendo. Isso quando não se tem interferência do além, como me aconteceu esta noite.
►De repente a televisão entrou em modo de vídeo com um chiado infernal. Nenhum comando respondia no controle remoto. Como alternativa fui até a tv e passei para o modo TV e voltei para a cama. Assim que me deitei o volume foi ao máximo e nada de controle. Novamente de pé resolvi abrir o controle para trocar as pilhas. E quem disse que eu conseguia abrir aquela tampinha das pilhas?
►Dei um tapinha de leve, usei a ponta da caneta, um grampo de cabelo e nada. Como já passava das cinco e a minha irritação de mil, joguei o controle na parede para acabar com o problema. Foi quando a televisão que eu havia desligado ligou sozinha no seriado “Fear itself”.
►Restaram os esqueletos, do controle e desta que, com menos uma noite de sono, acaba de narrar o causo do “o assombroso caso do controle remoto”.

Soaroir de Campos

São Paulo - SP
03/10/09

(The only thing we have to fear is fear itself.
“A única coisa que temos que temer é o próprio medo".
Frase atribuída a Franklin Roosevelt)