quinta-feira, 29 de março de 2012

Ingenuidade do Homem

Ingenuidade do Homem
By Soaroir
29/03/2012


8 Samantha
Gilbert Garcin, Change the World, 2001.


Não chega a ser antropofobia, mas cada dia mais diminui minha admiração pelos seres humanos, que em seus pacotes herméticos com fissuras voltadas somente às próprias trouxas de preceitos e intolerâncias, como se somente o outro precisasse de remédio para dor, não deixa brecha para os que vivem em diferentes embrulhos.

Neste reino tão, tão distante do meu canhestro mundo começo a ter medo de gente. Já não sei mais quando abrir a boca, me interessar pelo problema do próximo ou procurar saber o resultado de determinado assunto a mim relatado. Além me ater “vou bem” quando me perguntam “como vai?”, fico cada vez mais distante do pertencer a alguma coisa, lugar, associações em geral. Isso me faz sentir na pele do poeta: Nunca conheci quem tivesse levado porrada.¹ ,pago mico, sentisse necessidade de reaprender ou se reinventar.

Tudo é tão previsível! O final dos contos, o arremate dos sonetos, o desfecho dos crimes; o retorno do herói e a volta para o passado...Chega a ser bucólico ver a ingenuidade do homem de boa fé.



¹poema em linha reta
 

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Rodeios

Rodeios
Soaroir
23/3/2012

imagem/http://blog.joseeduardomartins.com

Presunção, petulância, se atolar em comiseração e, em nome de boa fé e perdão, engolfar-se vítima de outrem, marionetes que, para nossa conveniência, manipulamos em prol de uma sobrevivência suportável- alegação atenuante para os nossos descuidos.

É burlesco quando nos sentimos tampa do caldeirão do cozido desses vegetais que somos. Nessa embriaguez de comidas, fornos e fogões, lavanderias e a insistente remoção das poeiras que espanamos, dia após dia, como resto de guião, a fim de sobrepujarmos à sujeira sobre a mobília única que conhecemos e às quais nos apegamos.

A mesa redonda, as fotos de família... Mera representação viva de falas e impressos, largados em empoeirados “cellars” – até o próximo quinhoeiro se apossar do alheio espaço.

terça-feira, 13 de março de 2012

Empregos na Terceira Idade

Copyright Soaroir



“Liderança e Motivação”

Para liderança, entre outros sinônimos, escolho “comandar”. E acrescento que, do meu ponto de vista, só possa ser assumido por um indivíduo com conhecimento adquirido pela prática e o estudo.
Tomo emprestado a introdução da professora Irene Azevedo¹ para falar dos profissionais  de terceira idade  que,  por necessidade financeira ou psicológica, necessitam voltar ao mercado de trabalho: Vivemos num mundo de mudanças constantes e, sem percebermos, nossa mente acostumada ao ritmo do dia a dia, (...).  Embora sobre assunto paralelo, este introito  bem se aplica a uma constatação que pouco ou nada existe a respeito.

Muito bem. Tenho mais de 20 anos de experiência como secretária executiva bilíngue – inglês/português e, apesar dos convenientes artigos promocionais de que esteja chovendo emprego, e isto digo com conhecimento de causa, para o velho não funciona. O máximo que se consegue é, nas redes de postos de atendimento direcionado a trabalhadores que buscam inserção no mercado de trabalho, sermos encaminhados para agências de emprego, engodo que ainda não consigo entender o objetivo.

Convenhamos. Que empresa apostaria em uma ex-executiva de 64 anos, aposentada e há muito fora da sua área; que para sobreviver aceita posições bem menos complexas e com salários  ínfimos?

Que credibilidade se pode passar para os “embofiosos” recém-formados executivos? Que plano de carreira podem esperar de nós que só queremos continuar existindo?

De certo os tempos mudaram. Executivos caem as pencas no mercado de trabalho infestado de “MBAs” “Harvard,s” e similares que oferecem ao sangue novo a motivação e consequente liderança. E nós?  E nós?
Só nos resta a vã experiência.

(sem revisão)

Soaroir de Campos
São Paulo, SP
13 de Março/2012
http://socronicas.blogspot.com/

¹ Irene Azevedo é professora de Gestão de Pessoas da BBS Business School e diretora de Negócios da LHH|DBM
http://www.empregoecarreira.com/mudar-e-preciso#idc-container

terça-feira, 6 de março de 2012

Os Direitos da Mulher Velha

Os Direitos da Mulher Velha
by Soaroir 6/3/12




Além daquela Lei, que só atende quem tenha renda de até três salários mínimos, independente das despesas, existe o Estatuto do Idoso, que só se ouve falar, nunca soube de alguma velha lendo e entendendo tudo aquilo; DUDH (Declaração dos Direitos Humanos) este então nem com lupa. Só pagando um “adevogado” . Mas como?

Toda lei é criada para alimentar os criadores.

O resto é balela!