terça-feira, 12 de maio de 2009

Comédia de Aniversário

"Stand-up Comedy"
Soaroir de Campos
9/5/09

“Bom Aniversário”
Alguém saberia me dizer o que realmente há de bom em fazer aniversário? O novo quer ficar mais velho e o mais velho... como todos sabem ... parecer mais jovem.
Na minha idade o que há de bom ficar mais velho, além de ter mais histórias desatualizadas para contar, mais revistas velhas, roupas apertadas e outros troços que fervorosamente prometemos terminar um dia, como a tapeçaria, ou sair da página 111 de “No Caminho de Swann”, por exemplo? Só os inusitados presentes.Comemorar aniversário é só mais um motivo para uns porres. Ambíguos e literalmente.
É surpreendente fazer aniversário no meio do mês, especialmente no meio do mês do meio do ano, quando o gerente do cheque especial já não é mais aquele tão gentil mediador quanto na época das “Boas Festas” e o nosso 13º salário.
Nasci em meio a foguetórios, bandeirinhas, procissões e ladainhas. 14 de junho –de um bom ano. Foi desde então que me especializei em pular fogueiras. Convenhamos que é uma data linda. Todos os caipiras reunidos tomando quentão e comendo bolo de fubá, pé-de-moleque e mandioca assada e portando debaixo do braço uma prenda de acordo com a ocasião e nunca com o aniversariante. Um chapéu de palha, um laço de fita vermelha para dar sorte, ou um tacho ou outros apetrechos para o quentão - que se fosse em outra época do ano seria para queijo e vinho.
Foi em um desses 14 de junho que por acaso entendi melhor a “stand up comedy”
Uma amiga da família que já não dança mais quadrilha e de “O Quatrilho”(¹) só se lembra de ouvir falar , embora ainda ande pulando fogueiras, arrastou pro lado uma das mesinhas e retirou do fundo de uma bolsa tipo embornal, um bloquinho e suas cartas de baralho. Ela parecia aqueles peixes que ficam de tocaia pela presa. – Vai um carteado aí? Uma tranca? Ela já estava arriscando até um bridge, mas nada – o forrô lá fora do salão do prédio estava mais animado. Para que seus baralhos não se tornassem os únicos donzelos /virgens da festa ela apelou. Chegou a mesa para um vão entre o bar e a mesa do bolo, adaptou o visual numa espécie de tenda e atacou: Leio sua sorte... Ela mal acabara a frase e uma fila se formou. Não ficou mulher com homem nem comigo, a aniversariante. Aproveitei para dar uma folga aos sanfoneiros, o que mais tarde eu me arrependeria profundamente.
Fiquei eu só entre os temporões pisando na grama e alguns pais gabolas. Um avô cortou a sequência daquele desfile de espermas premiados com um: - Legal, você nem aparenta ter a idade que tem. Ai eu craquelei... Se, sem bem saber a minha idade ele soltou uma dessa é porque ou esta festa de aniversário está um lixo, ou eu. – Pareço mais, já sei – tentei num tom de galhofa e não é que, no mesmo tom , o cretino confirmou!
Pouco a pouco, à medida que a fila na “tenda” da minha convidada quiromante ia se esvanecendo, uma “panelinha” ia se formando do lado esquerdo do terraço. Até que por ultimo apareceu a Cacilda, velha amiga de infância, com um semblante meio perdido. Apressei-me em sua direção e disfarcei: E aí? – Como fui a última da fila consegui um horário para a Sibila continuar lendo o meu futuro só para quando você completar setenta.
Que droga! Pensei. Como esses amigos assumem responsabilidades por nós outros?! Agora tenho que comemorar mais um monte de aniversário para não decepcionar-los !?... Haja gengibre...
Finalmente, estirada num sofá eu matutava: na outra encarnação quero nascer em Dezembro, pensava enquanto abria um presente solitário num canto. Era uma bolsa, legítima imitação de couro marrom. – Até que em fim um presente útil, e de minha irmã - pensava . Meti a mão no fundo e lá estava : MOD 977- CBA /MSCAR/TPA/NIQUE/CAC/PRTPR ao lado de um código de barra para eventual troca, logo em seguida um delicado cartãozinho:
“Querida chefe xx, nós da Cia xy lhe desejamos um Feliz Natal ...”
Ai ai ai caramba... Nunca trabalhei na xy, eu não me chamo xx... e hoje ainda é 14 de junho!!!

e.t: este é só um rascunho inicial - até breve