sábado, 19 de abril de 2008

Será o Benedito!

Auto da ajuda
©Soaroir 18/04/08

imagem: niilismo.net/galeria




“Mas será o Benedito!?” Quem já não ouviu, mesmo em filme, esta exclamação dita em momentos em que nada está dando certo? Pois é, foi isso que acabei de gritar lá na cozinha antes de me rir da situação pois tal expressão “é do tempo do bensoizinho”. Esta última eu não tenho a menor idéia do que ela significa, tampouco estou certa de sua grafia, mas no momento não estou disposta a pesquisas. Coisas do tempo em que se fervia leite e a gente ficava olhando para a leiteira e quando olhava para o lado, pluff, derramava e sujava tudo o que estava limpinho. Ai a mãe que um dia ouvira de sua mãe repetia com ela mesma: - “Mas será o benedito!”. E hoje, automaticamente dei o mesmo grito quando me deparei com um monte de coisas fora do lugar, aquelas do tipo que se vai empurrando com a barriga até quando a realidade nos convence que precisamos de ajuda.
Tenho verdadeira aversão por começar qualquer frase na primeira pessoa, isso é resquício do treinamento enquanto fui executiva e me comunicava com gente muito “importante” - e pensar que já me sentei com a ex-primeira dama D. Ruth Cardoso, o sr. Pai do Ayrton Senna e alguns big bosses…- Mas isso aqui não vem ao caso -. Terei que começar com o “eu” mesmo.
Eu preciso de ajuda. Não me incomodaria em ganhar na mega-sena, mas a ajuda mais necessária no momento é para descobrir onde e como eu preciso dela. Enquanto isso, eu vou delirando: preciso de uma boa cozinheira, um motorista responsável, um proficiente revisor para os meus textos, um contador justo, um eletricista capaz e um advogado honesto – padre e marido eu já desisti – . Por onde começar?
Talvez começar pela minha agenda que ainda está aberta no mês de Fevereiro; me desculpar com todos os aniversariantes amigos e parentes que deixei de parabenizar; remarcar a consulta com meu dentista; atualizar as datas de levar a Lieb no veterinário; marcar novo entendimento com os administradores da chácara; decidir a data para encerrar a MI. E nesse meio tempo preparar e pendurar na geladeira um cardápio racional para não ter que chegar de manhã na cozinha e ter que repetir: “será o benedito!” ao descobrir que todo o jantar de ontem vai para o lixo, por falta de adeptos do meu tempero.
É difícil admitir mas sempre precisamos de ajuda de alguém. No meu caso precisar não significa necessariamente receber, por isso vou deixar toda essa bagunça de lado e partir para ajudar alguém necessitado. Se é dando que se recebe…

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Morte pela porta das traseiras¹

- A menina da janela -
Por Soaroir 16/4/08


Medea-Eugène Delacroix

Não faço parte de nenhuma outra significante ordem a não ser a de cidadã e mãe e gemo ao imaginar o sobressalto de uma indefesa criaturinha sendo violentada, principalmente se seu algoz for alguém que, como se aprende nos catecismos, se deva honrar e obedecer. Mas não vou botar Deus nessa história, pelo contrário, certamente Ele não existia entre as pessoas que mataram a menina pela janela.
Fico imaginando se neste caso a romancista policial britânica Agatha May Clarissa Christie poria seus detetives (Poirot, Miss Marple, Tommy e Tuppence Beresford, Pyne) atrás desse outro misterioso Sr. Quin, que incólume, reage com o luminol do ®CSI-SP.
Sei lá. Como disse, não faço parte de nada e posso até estar confusa pois não entendo muito de gente. Só escrevo, pra ver se alivio meu coração e minha cabeça do incessante tilintar: mitologia ou realidade? Não consigo identificar onde uma começa e a outra termina. Por que e quem, fora do mito, cometeria a mais ímpia das ações? Mais um manipulado Jasão da história assumindo crimes? Descerá do céu um carro puxado por serpentes e dará fuga a mais uma Medéia que desaparecerá nas nuvens, como tantos outros famosos mitos de nossos dias? Igualmente a toda a sociedade eu tenho tristeza, perguntas e muito medo da história no futuro.

¹ Título de "Postem of Fate" em Pt.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Crônica de chuva

Logo cedo© Soaroir Maria de Campos
14 de abril/2008

imagem: http://num3er5distribution.com/


Ainda dormem os "tropegantes" na breve aragem de outono, enquanto a sisuda e silenciosa manhã de segunda-feira digladia com o raio e o trovão na alcova do céu anuviado.
Todos ainda dormem, menos eu aqui na rede enquanto a chuva banha o ainda silencioso asfalto desta metrópole sobressalteada de esperança por um dia sem fumaças, motores e violências.
Timidamente roncam ao longe as engrenagens competindo com os primeiros gorjeios da natureza.
As plantas me caçoam com os pingos antes tímidos que se avolumam em gargarejos da tormenta que por aqui desaba. A luz não cessa. Ela persiste, reprisa e se aproxima com os trovões e a chuva que aperta.
Sem pôr de lado o matreiro ludibrio de poeta eu viro pássaro entre as nuvens carregadas. Tiraram a tampa do céu... Penso nas ribanças, nos “barranqueiros” e em suas casas soterrando-se, alagados terreiros e no trânsito parado e outros enguiçados nas águas correntes dos bueiros; nos pontos os que marcam um ponto para defender irreais 415 de mínimo, máximo para sobreviver até a outra segunda feira.
Ainda faltam dez para eu acordar dessa chuva torrencial que cai às seis. Como espelhos, persianas e janelas aos poucos uma a uma deixa a luz passar. Silhuetas indecisas estendem os braços e experimentam o tempo.
Lá vai um cobertor. Entre PETs um mendigo na enxurrada encharcado atrás de sua relíquia conseguida entre os sobejos do domingo.
Chove “cats & dogs” por aqui no alto da Paulista.