(primeiro rascunho)
By Soaroir de Campos
05-07-09
◊ Receber na portaria do prédio uma correspondência ostentando, em negrito, um título, define um status e nos causa muito impacto. Dependendo do nosso momento, colabora, inclusive, para nos situar na realidade.
◊ Do registro de nascimento, passamos pelas cadernetas de escola, cartões de banco, de crédito, até àqueles pendurados no pescoço identificando-nos como “escritora”, nos caracterizando como cidadãos, conquistadores, ativos sujeitos inseridos no contexto de uma sociedade evoluída, os quais exibimos com orgulho.
◊ Com o tempo, os cabelos e os demais acessórios, aqueles vão perdendo a validade. O impressionante é que coincidem com o vencimento do passaporte, da carta de habilitação (CNH) e os utensílios domésticos.
◊ Do banheiro até a área de serviço, tudo começa a ruir. A princípio, muito naturalmente encarado. Os azulejos despencam, o colchão já era, a TV perde o contraste, aquele computador que uma vez fora de última geração e sacrificosamente adquirido no cartão de crédito já não gera memória suficiente para acompanhar a evolução.
◊ Para um moderno fogão que perdeu o acendedor automático não há mais peças para reposição. Igualmente para a lavadora que parou cheia de água e de pratos sujos. E a máquina de lavar então!? Um dia valiosíssima e autêntica White-Westinghouse, se derrama em óleo toda a vez que é obrigada a trabalhar a ponto de sair correndo, patinando pela área afora.
◊ Aí é hora de convocar uns pajés, que não distribuem cartões de visitas (mas que los hai, los hai) para nos benzer juntamente com a casa. Quando assombrosamente toca o interfone, e um jovem porteiro com uma voz regozijante anuncia:
― Dona Fanegundes, acabou de chegar o seu cartão do idoso.
◊ E ao rasgar o envelope, lá está um resumo de tudo, em cores vivas e indubitável fotografia, no último cartão que ostentaremos junto ao da assistência médica e o antigo RG:
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