sábado, 9 de outubro de 2010

Palavra de poeta

Para que serve a Poesia
Por Marcos Lizardo
http://recantodasletras.uol.com.br/autor_textos.php?id=62308&pag=1


Sempre discutível a ideia de utilidade, valor abstrato  que não resistimos dar a todas as coisas na razão proporcional de sua aplicabilidade prática. Daí surgirem os julgamentos do que serve ou não serve para alguma coisa, ou seja, o que é ou não aproveitável na prática.
Sempre me deparo com a pergunta "Para que serve a Filosofia?" e mesmo quem pergunta espera ouvir a resposta que mais aceita, que é a de que a Filosofia não serve para nada. O mesmo pode ser dito em relação à Arte. Não fazem, por exemplo, essa pergunta quanto à Matemática, dado o conhecimento que temos de sua grande aplicação prática na solução de muitos problemas práticos, embora a Matemática tenha muitos campos de estudo e reflexão que não tem, pelo menos por enquanto, nenhuma aplicação prática, talvez teórica apenas.
Encarar esse mesmo questionamento em relação à Poesia e à Literatura esbarram no mesmo tipo de problema. É confortável apreciar o estudo da Medicina ou do Direito, porque um médico ou um advogado se prepara para uma profissão de grande aplicação prática, da qual vai tirar o seu sustento. Já um filósofo, um poeta ou um escritor vai se restringir, segundo creem alguns, a dar aulas ou viver de seus livros, sem nenhuma utilidade mais.
É preciso uma reflexão um pouco mais séria e atenta a essa questão.
A Poesia não era a forma primária de se pensar o real e sim o mito, este, com Homero, contado através de versos, para possibilitar sua memorização e transmissão oral. O mito é um relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, sempre uma representação coletiva , transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo, antes de tudo uma palavra que circunscreve e fixa um acontecimento. Não se define pelo objeto de sua mensagem, mas pelo modo como a profere. Diferente é a atitude do pensamento racional. Os filósofos pré-socráticos tentaram desmitificar ou dessacralizar o mito em nome do logos, da razão. Desse olhar para as coisas como elas são ou não são ou por que são ou não são é que vemos nascer a Filosofia.
Seria preciso se estender mais para explicar tudo isso, mas deixemos por ora.

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