Nunca viciei em coca-cola ou levei coleção alguma a sério. Depois de uma cerveja, o que mais gosto é pastel de feira e caldo de cana, que remetem à minha infância na Usina Ururaí.
De resto, sempre fui alegre e esfuziante, embora, ultimamente, venha tentando me conter diante de certos excessos, embaraços, talvez, algum ciúme, e mesmo da inveja que provoco nos circunscritos; quando aceitam meus modos e minhas modas me recebem como alguém fora da ordem mundial; será?
“Entre os ingleses aja como um.” Ou algo assim. Não lembro se mais alguém disse isso, mas ouvi do meu filho quando fui visitá-lo em Cambridge, logo depois de encontrar o Nick na hora do break num coffee shop lotado de aspirantes à PhD.
Por duas semanas o Nick foi nosso hóspede aqui no Brasil e como um bom inglês, acredito que traduziu bem a fala “When in Brazil act like one” e a impressão que deixou por aqui foi de um rapaz expansivo e carismático.
Os ingleses, em sua maioria, são cheios de energia e animação, mas nada de abraço apertado e beijinho dobrado, como eu, de braços abertos num soprano alto, demonstrei toda minha alegria em revê-lo:
“Hi, Nick! What a nice surprise seeing you again...”
Só mais tarde percebi o mico. Primeiro “Hi” não poderia ser surpresa, já que sabia que o moço estudava lá, e segundo... Bom, nem é preciso contar!
Esta ocasião, entre tantas, em que minha natureza esfuziante foi implacável, estava esquecida dentro de algum compartimento de memória provavelmente do tipo “Inspiração Divina” junto de remorsos e desigualdades.
Até que o colega de letras Bancalero sugeriu o mote de poesia: “Tantas coisas para lembrar – Tantas coisas para esquecer”; e revirando a “Inspiração Divina” me dei conta de, que sim, sou patética, mas não estou só – somente o é aquele que por compromisso com a censura vive a emoção de cada momento, pelos olhos daqueles que ainda não aprenderam a vivê-la.
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