segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Crônicas pra ler depois

Soaroir 22/10/07


Desde que o Veríssimo – desculpe-me, mas é que a convivência diária e tão próxima me leva a esta intimidade – em uma de suas crônicas declarou seu débito com o latim que eu tento saldar minhas pendências.

“Sou mais eu, hoje acabo com essa fuzarca! Onde já se viu deixar tantas pendências para depois, tempo que segue tirando meu sossego e abusando de minha hospitalidade! Descaradamente se alastrando por todo o meu espaço!...Há de ser hoje que mostro quem é que manda por aqui...” pensava enquanto arregaçava as mangas e, como em uma cena de desenho animado, varejava os vencidos e caducados cadernos separando-os do verdadeiro motivo daquela pendente bagunça.

Recortava e cuidadosamente ordenava por data o Loyola Brandão; Rubens Paiva; da Matta; Jabor, Shirts, e Veríssimo quando de repente fui assediada por um ser alienígena me indagando o que “depois” significava. Caramba..., assim de repente, sem prévio preparo...Imediatamente revi meus conceitos e os pretéritos, mas nada encontrei que eu pudesse definir “depois”. Estava claro para mim o que era “ontem”, “amanhã”, “ano que vem” e, até mesmo o “antes”, mas “depois” não soube mesmo como explicar. Diante da insistência daquele ser eu “chutei”: é a mesma coisa que o limbo - existe, nunca sabemos onde está, e é uma espécie de estalagem onde se pernoita até chegar a próxima carruagem.

Sem prestar mais atenção ao invasor continuei a tarefa a que tinha me proposto, mas mentalmente repetia: “para depois, para depois, para, depois” e cada vez menos fazia sentido o que era “depois”. Pensei nas várias coisas que deixei para “depois” resolver, entre elas as blusas de seda, de quando ainda eramos puras, que continuam entulhando os armários, só porque me custaram os olhos da cara e suas substitutas, fabricadas com o material PET, não me agradam. Ali mesmo na biblioteca olhei para as diversas tranqueiras em meio a tantas coisas importantes deixadas para “depois” resolver. “Depois” é bom, necessário, mas gosta muito de vaguear. É melhor não deixar muita coisa aos seus cuidados.

Já para terminar aquela pilha me reaparece o alienígena de oito patas; para evitar novas discussões encerrei o assunto com “A grande mulher do Lineu” e deixei uma nota de esclarecimento: “Para depois ler”



Deixo para depois revisar

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